16.1.09

De Corpo e Alma

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Olha para mim, olhos nos olhos.
Deixa-te seguir o instinto e permite-te o abandono. Toca-me como se te pertencesse e faz-me sorrir e dizer-te piadas. Quero ouvir-te gargalhar. Beija-me à chuva. Envolve-me num delicioso abraço e beija-me com sofreguidão. Deixa-me respirar e exalar intensidade. Devolve-me a sensação de ter borboletas no estômago. Desafia-me e seduz-me. Corteja-me e devora-me. Cumpre o prometido e faz-me o desejado. Pulso por ti. Eleva-me e submete-me a ti. Compreende este ser estranho que, por algum motivo alheio a nós, se cruzou contigo. Deixa-me entranhar-me em ti para que o estranhamento passe a ser uma memória. Captura o momento e não o deixes escapar. Agarra-me, segura-me e não me abandones ao nada que me rodeia. Completa-me e preenche-me. Aceita-me e reconhece-me. Aceita-te e reconhece-te. Peca na verdadeira acepção da palavra ... porque só os grandes pecados justificam a lágrima. Não os pequenos que podiam ter sido tanto mais. Fala-me ao ouvido e confessa-te. Desliza as mãos em mim sem pressa. Sente-me. Marca-me e pede-me o mesmo. Trata por tu o meu íntimo porque já fazes parte dele. Não permitas é que a minha imaginação seja tão melhor e tão mais completa do que o momento vivido. Faz-me vivê-la. Vive-a. Busca a essência, o busílis, a causa, o limite. Não te destruas por tão pouco. Aprendeste a diferença entre conceber o crime e o realizá-lo. Aprende agora a diferença entre seres condenado por uma facada superficial e um homicídio glorioso e requintado. Não belisques a maçã. Não sorvas apenas uma gota do seu sumo. Dá-lhe uma estrondosa trinca. Mastiga-a com gosto e até ao caroço, digere-a e retira-lhe a vitamina. E depois segue o teu caminho, se assim o desejares, mas de alma cheia e pleno da convicção de teres errado em grande, só que por algo que o justificou, que tenha realmente valido a pena e, aí, poderás gritar a plenos pulmões: “Mea culpa, mea maxima culpa”!
E eu e a minha alma gritaremos contigo.

Shana Andrade

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