14.1.09

A Máscara

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Olha para o relógio que marca 10:30h e sorri. É uma privilegiada, pois uma grande parte das pessoas já se encontra a trabalhar a essa hora e ela ainda tem todo o tempo do mundo. É senhora e dona das suas horas.
Agarra na caneca de café com leite e vai até à varanda, onde abre a janela e se deixa invadir pelos raios de sol. Um dia de Inverno solarengo. Não tem do que se queixar. Começa a acreditar piamente que o mundo é o que nós queiramos que ele seja. E, apesar de ter um coração desocupado ainda, sente o seu ser radioso de amor para dar. Não sabe quando, nem a quem, mas também não está nem um pouco preocupada com isso.
Olha para a vista que se estende para o rio e encanta-se com os reflexos dos raios de sol na água. Perde-se em contemplação.
De repente, sacode o cabelo e decide estar na altura de se arranjar. Hoje sente-se inspirada. Passados quarenta e cinco minutos, abandona o prédio, inspirando uma grandiosa lufada de ar fresco, e dirige-se ao seu carro, onde dará início à maratona do dia.
Já sentada ao volante, parada num sinal vermelho que teima em demorar mais do que deve, decide olhar-se ao espelho. Fantasia... tudo fantasia. Desde que acordou que resolveu dar lugar a uma das suas muitas personagens. Mas isto cansa-a. Esgota-a.
O sinal abre. Arranca e acende o leitor de música, no qual escolhe uma música qualquer que a faz lembrar sabe-se lá do quê, que se passou ninguém imagina quando. Digo ninguém porque esse é um segredo só dela. Ainda que já tenha sido partilhado, a forma como verdadeiramente o sente ou o recorda, só ela conhece.
E, mais uma vez, o seu “eu” dominante reclama o seu lugar e transporta-a para aquele sítio único onde ninguém, mas rigorosamente ninguém tem acesso permitido. E, sem ser por propositadamente o querer ou desejar, é precisamente nesse milésimo de segundo em que nos distraímos que o mundo a perde.

Shana Andrade

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