14.1.09

De Nada ...

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Ali, foste um gigante perante os meus míseros cinco centímetros de altura. Nenhum buraco estava próximo o suficiente para o qual me pudesse ter arrastado sem te dar a oportunidade de me olhares. Estavas tão incrivelmente alto e simpático e natural e conversador e ... indiferente.
As tuas palavras entravam-me pelo cérebro como chicotadas agudas, daquelas em que o som se propaga durante vários segundos. Apetecia-me fugir e tinha os pés pregados ao chão e o desgosto estampado na cara. A melhor das actrizes suicidou-se ali à tua frente, enquanto tu, impávido e sereno, te comportavas como se nada fosse, como se nos tivéssemos visto no dia anterior, como se eu fosse outra qualquer. Ias respondendo às solicitações dos que nos rodeavam e brincando, enquanto eu, mortificada, de pernas vacilantes e olhos perdidos, tentava encontrar a minha postura habitual, que tinha acabado de ser atropelada por ti à tua chegada e ali perecia em agonia. As palavras não me ocorriam, o sorriso fugiu assustado, o cérebro não respondia ... só os olhos viam. E recusavam-se a processar a informação.
Naquele minuto, tornei-me uma disléxica emocional, um ermita em total reclusão, uma abandonada pela sorte e, enquanto tu falavas com aquela que, aparentemente, outrora houvera sido eu, a sombra de mim tentava equilibrar-se em cima dos saltos que, amaldiçoadamente, naquele dia não usava.No meio de todo aquele celeuma, tentei buscar em mim a razão pela qual cessei a minha existência naquele momento. E, durante a minha busca até ali infundada, os meus olhos inúteis tentavam agarrar uma réstia de qualquer coisa nos teus e nada encontraram. Tão gentil, tão socialmente correcto e aprazível, tão acessível ... tão inacreditavelmente natural. Nem um grão de nervosismo, de embaraço ou de incómodo. Imaculado. E eu, a geralmente forte e inabalável, a tentar agarrar o coração que insistia em descer-me pela dignidade abaixo. Subtilmente, num dos muitos momentos em que te distraíram, consegui apanhar o desgosto, a tristeza, aquela dorzinha aguda, a estranheza e a criança de quatro anos que se agarrava envergonhada às pernas da mãe, que tentavam escapulir-me pelos poros, e estrangulei-as nas mãos que apertava com força dentro dos bolsos.
Só quando vocalizaste a despedida e te começaste a afastar, encontrei a resposta para o que tinha tentado perceber.
Ao dar-te espaço, perdi-te para a realidade. E, apesar da dura evidência, enquanto desaparecias no horizonte, tentei ler-te o andar, como se ele me pudesse contradizer tudo o que tinha acabado de constatar. Fiquei prostrada, lívida e com as unhas marcadas nas palmas das mãos, enquanto tu, de passo firme e decidido, me informavas da minha nulidade em ti e me davas a estranha certeza de ser a última vez que nos cruzávamos.

Shana Andrade

2 comentários:

Anónimo disse...

Liiindo! isso e que e inspiração,mas so um conselho, vê la bem isso porque daquilo que conheço não tens 5 centimetros mas muitos e muitos mais.
beijo
bia

Anónimo disse...

Apesar de isto pareer uma frase comprada nas lojas dos chineses, agrada-me mto a forma como admitindo toda a tua vulnerabilidade, demosntras uma grande força.

Não é qualquer um que o consegue fazer... não de forma tao elegante e poderosa. Em tudo és genuina Shana.

Adoro-te Miuda.*