Cativa-me. Por favor, cativa-me, pedia a raposa ao principezinho, e peço-te eu a ti. Cria laços entre nós para que te sinta único no mundo, para que me sintas a mim. Por favor, cativa-me.
Tenho vivido uma Vida maravilhosa. Todos os dias acordo e volto amar cheiros e cores. E é tão bom viver assim. Agradecida. Em profunda e serena tranquilidade.
No entanto, hoje não pára de ecoar na minha mente uma frase: "um dos sintomas da morte dos nossos sonhos é a Paz. Porque a vida passa a ser uma tarde de domingo.." E eu pergunto-me; como permiti eu, que se instalasse este conforto no meu coração?! Porque deixei eu, que ele parasse de bater apaixonadamente?! Se me olho ao espelho sorrio, no entanto, se procurar mais fundo, sei que os meus olhos, que os meus sonhos e planos, deixaram de amar. Eu sei.
Fazes-me falta esta noite. Dói-me a tua ausência e por absurdo que pareça, sabe-me bem esta sensação. Porque quando estou do teu lado, volto a ser uma menina e eu quero voltar a ser uma menina e ter sonhos cor de rosa, e borboletas no estômago e pernas que insistem em tremer. Eu não fui feita para tardes de domingo, meu querido. Não te quero atravessar como quem ultrapassa uma meta. Eu não quero ganhar nada. Estou cansada de vitórias sensaborosas. Eu quero o jogo de volta. Eu quero o risco. Quero de volta a paixão e o medo, estou cansada de estar sempre certa. E segura. Eu quero que me atinjas! Eu preciso que me atinjas!
Se estivesses aqui agora, inundava-te com perguntas, que de tão pequenas, contêm o mundo. O teu mundo. O mundo que anseio conhecer. Onde é que tu nasceste, afinal? Tinhas medo do escuro em pequenino? E o teu melhor amigo, como se chamava? Onde estudaste? Qual era a tua disciplina favorita? Diz-me como se chama o teu filme favorito e canta ao meu ouvido a música que te faz dançar. Conta-me, porque sítios andaste até aqui chegar. Fala-me do que te assusta, do que te faz chorar e onde é que não pára nunca de doer. Depois volta-te a rir comigo.
Cativa-me. Por favor, cativa-me. E a seguir, cala a minha boca com a tua. Quero a sensação avassaladora de dar um beijo e saber, naquele preciso segundo saber, que é o fim da vida como a conhecia.
Ana Almeida
* "O Principezinho", Saint Exupery
- «Cativar» quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa.
- Quer dizer criar laços...
- «Criar laços»?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê; por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti...
A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.
- Por favor . cativa-me! - acabou finalmente por pedir.
(...) E o principezinho cativou a raposa. Mas quando se aproximou a hora da despedida..
- Ai! - suspirou a raposa. - Ai que me vou pôr a chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não te desejava mal nenhum, mas tu pediste para eu te cativar .- Pois pedi - disse a raposa. - Mas agora vais pôr-te a chorar! - disse o principezinho. - Pois vou - disse a raposa. - Então, não ganhaste nada com isso!
- Ganhei, sim, senhor! - disse a raposa - Por causa da cor dos campos de trigo - E em seguida acrescentou - Anda, vai ver as rosas outra vez. Vais compreender que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
(..)- Os homens já não se lembram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não deves esquecê-la. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa...”
Há 13 anos