18.12.08

E um dia consegues, sabes?

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Um dia acordas de manhã e estranhamente estás sozinha. Não me refiro a uma solidão física, à ausência de um corpo, afinal esse há muito que partiu, estou a falar-te daquela sensação de presença constante, omnipresente, a tal que julgavas entranhada para sempre dentro de ti e que um dia descobres ter partido.
Vives esse dia com a certeza que ele retornará no momento em que menos esperares. Desta vez, não lhe queres dar essa satisfação, desta vez não será avassalador, desta vez, tu vais estar prevenida. Dobras uma esquina qualquer e sabes, desta vez tu sabes, que ele vai lá estar, ele e o sorriso que iria mudar o mundo, o mesmo sorriso que mudou o teu, só que desta vez não serás surpreendida. Vais saber o que dizer, vais ter o gesto certo, vai apaixona-lo sem retorno. Cruzas o prédio com andar seguro, triunfante e, nada. Ele não está. Recomeças o caminho e em todas as esquinas o mesmo processo. E em todas as estradas o mesmo resultado. Nada. Ele não está.
Quando te deitas essa noite, respiras liberdade. Estranho sentimento esse. Não achaste nunca poder voltar a acontecer.

Na manhã seguinte, tudo de novo. Nos dias que se seguem, tudo igual. Até ao momento em que já nem sequer pensas porque não pensas nele.
Os anos passam. O teu corpo já não lhe pertence. Sem culpa. Sem remorsos. E nenhum dos outros fica tempo suficiente para te enredar nas armadilhas do sentimento. Sem esperança. Sem dor.
Mas um dia, tudo muda.

Esse dia, que não vai ter nada de extraordinário, será um dia comum de uma semana indiferente, de um qualquer mês, de um qualquer ano.
Será uma manhã igual a tantas outras não fosse a diferença de despertares nos braços de alguém. E gostares. E gostares muito.
Queres saber o mais curioso? Esse será o instante em que ele retornará ao teu pensamento. Dono e senhor, pronto a reclamar o que sempre lhe pertenceu, o que julga que sempre lhe pertencerá.
Depois de tanto tempo, ele volta, e tu vais saber que nunca chegou a partir. Sentes-te dormente e assumes que sem ele, tens vivido sempre assim. Pela metade. E voltas a ele, voltas a um "nós" e a um passado que nunca o chegou a ser.
E então, quando pensas ter regressado ao amor que nem o tempo, nem a distância, nem a vontade conseguiram terminar, o milagre acontece. Olhas de novo para o corpo adormecido ao teu lado e sorris. Está do lado esquerdo da cama e não te importas. Está do lado esquerdo do peito e não tens medo. Aninhas-te nuns braços que te chamam e agradeces o privilégio de poder voltar a Amar.
E esse será finalmente o dia em que consegues adormecer em paz.

Ana Almeida

1 comentário:

Anónimo disse...

Sabes que tenho um coração rotundamente triste e sombrio. Mas podes ter a certeza de que ele te ama muito. Porque todas as palavras tuas são minhas também. E porque todas as tuas esperanças se concretizam como as minhas. Obrigada pelo texto de resposta. Obrigada por seres e existires e me deixarees pertencer a esse milagre.