16.12.08

Perdão...

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Senta-te e ouve com atenção.
Navego no mar de uma culpa imposta. Em mim, não há resquício dela. Não me considero amoral, excepto quando me olhas com esses olhos incrédulos, de quem não concebe tal ideia ou de quem me acha louca. Gosto de gozar intensamente tudo o que sinto. Não me permito a ideia de haver donos, nem convenções e, muito menos, verdades absolutas e idolatro a ideia da luxúria, da gula e da vaidade. Nunca almejei a perfeição porque sei que ela não existe, nem em mim, nem em ninguém. Ao contrário de muitos outros, reconheço todos os meus revezes de personalidade... aqueles a que seres comuns como tu apelidam de defeitos.
Quero-te e sinto que tenho que te pedir perdão por isso. Porque não era suposto querer. Porque não contrario, nem sequer tento contrariar o que sinto. Porque deveria fazê-lo?
Perdoa-me ter-me imiscuído no teu mundo e te ter feito olhar para o espelho de forma diferente. Perdoa-me por te plantar um sorriso na cara sempre que falávamos. Perdoa-me por te gostar e aproveitar todos os segundos da tua companhia. Perdoa-me todos os golpes de sedução a que não resisti infligir-te. Perdoa-me por todas as vezes em que te deveria ter recusado a minha presença e não o fiz. Perdoa-me pelo ombro que te dei quando precisavas desabafar e eu aproveitava para me aproximar cada vez mais de ti. Perdoa-me por ter querido e conseguido conhecer-te mais do que aqueles a quem até o permites. Perdoa-me por, inconscientemente, te ter reconhecido qualidades que me levaram a escolher-te como o eleito. Perdoa-me por te ter confundido e baralhado, ao fazer vacilar esse mundo intocável no qual só tu habitas. Perdoa-me por me teres beijado de forma apaixonada e arrebatadora. Perdoa-me por ter sido tão honesta e me ter exposto como fiz. Perdoa-me por te ter contestado e debatido. Perdoa-me por ter trazido à tona aquele teu lado que já nem sabias existir e que tanto receias.
Particularmente, perdoa-me pelo meu toque, pelo meu cheiro, pelos beijos a que correspondi com toda a intensidade, por todas as vezes em que te toquei e também aquelas em que não o fiz, pela forma ansiosa como os nossos olhos se procuram, por cada batida cardíaca mais acelerada e por te ter feito sentir vivo.
Mas, acima de tudo, perdoa-me pela desilusão em que te tornaste, pelo meu súbito silêncio, pelo meu forçado calar de emoções, pelas injustiças que proferiste, pelo tesão que ainda hoje sentes e pela memória em que me tornei sem nunca o ter sido.
Ah! E não te esqueças de me perdoar também por todas as vezes em que no futuro te perguntares: “Como teria sido se tivesse arriscado?”.
Perdoa-me, meu querido, por te ter lançado no turbilhão da minha essência avassaladora e ter tentado tornar-te parte de mim. Reconheci-te o potencial mas falhei no julgamento da tua capacidade de concretização. E, é aqui, que eu não me perdoo.

Shana Andrade

1 comentário:

Essência disse...

Não resisto a comentar-te..
Voltei a ler-te hoje de manhã e voltei a sentir estas linhas como se fossem minhas. Intenso! Profundo! Insano! Avalassador!

Mi