5.12.08

Estado D’Alma

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Tanto tempo perdido. Revolvo as memórias do meu passado e questiono a minha vivência actual. Por onde começar a mudança? Passei parte da minha vida a tentar mudar o que e quem me rodeava porque sentia a necessidade de marcar a diferença. Agora, dou-me conta que quem mudou fui eu. Todo o ar do mundo não me chega quando respiro. Parece que me falta parte de mim e que a outra não consegue subsistir. Aliás, subsiste mas não vive. É um estado vegetativo de alma. Rodear a vida e não conseguir pôr os pés dentro dela e não a deixar abraçar-me, envolver-me, desenvolver-me.
Desenvolvi mas foi para pior. A única sobrevivente deste holocausto foi a esperança e o meu maior erro reside nela. É ela a responsável pela constante desilusão. Espero não sei pelo quê, nem sei por quem. Até sei, mas prefiro não pensar muito nisso, muito menos verbalizá-lo. É como se verbalizando-o tudo assuma proporções maiores e a minha frustração se possa abater sobre mim.
Não consigo reagir. Não consigo nem tento. Porque o tentar já me requer uma vontade que não possuo. Nunca me senti parte integrante deste mundo. Fui sempre a estranha, a outsider, a weird, a pesada, por quem me dei a conhecer melhor. Houve fases em que tentei integrar-me e mais deslocada me senti. Apetece-me contemplar a vida de fora. A dos outros parece-me tão mais interessante do que a minha. A dos outros é muito mais interessante do que a minha. Porque não nasci eu com essa fúria de viver que os que me rodeiam têm? A capacidade que tenho de me fingir integrada é assustadora. E demolidora também. Mas prossigo fingindo. Fingindo que sou alegre, despreocupada, conversadora, compreensiva e interessada. Sempre fingindo... nunca o conseguindo. Já não.

Shana Andrade

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